ODE A BRECHT
PRIVATIZAÇÃO DA ÁGUA
“Privatizaram sua vida, seu trabalho,
sua hora de amar e seu direito de pensar” (...)
E sua água, acrescenta ao poema de Bertolt Brecht a iniciativa privada de sentido público.
Como quem serve no prato de alimento ao faminto, no escuro da fome, o veneno da alma com resto de comida.
A metáfora levanta o véu das municipalizações da Corsan (Companhia Rio-grandense de Saneamento), manifestadas ultimamente por vários prefeitos gaúchos com astúcia e senso de oportunidade, ou melhor, cara de pau e oportunismo.
Isso você não vai ler, ouvir ou ver na imprensa golpista.
Grandes empreiteiras estão de olho no bem mais precioso do presente do futuro da humanidade, os mananciais de água das terras brasileiras.
Já reeditaram inclusive o sistema de capitanias hereditárias, dividiram o país e os estados em regiões.
Cada empreiteira ficou com sua parte do bolo.
O objetivo é privatizar o maior número de empresas públicas de abastecimento de água e saneamento.
Convencer governadores a privatizar as empresas estatais chamaria muita atenção.
Por isso, elas seguem a receita de Jack, o estripador.
Dividir o problema, multiplicar os resultados, somar os esforços e diminuir os riscos de escândalos e protestos populares.
A solução encontrada: comprar prefeitos com um seguro desemprego para corrupto nenhum botar defeito, isso no âmbito municipal, 500 mil reais limpos e livres de impostos, depositados pelo corruptor na conta que o corrompido escolher em qualquer paraíso ou inferninho fiscal.
O conglomerado de empreiteiras oferece inclusive o manual da privatização da água, do qual não consta nenhuma palavra que o denuncie como tal.
No manual também vem sugestão de projeto de lei e orientação de como negociar com vereadores para garantir sua aprovação, além de todo o processo licitatório como manda o figurino.
Seus lobistas e consultores sabem, como ninguém, apresentar esse tema, que começa com a municipalização, passa pelo plano de gestão integrada e termina com a casa pública debaixo da água da privada.
Para legitimar e dar ares de legalidade aos processos de gestão integrada da água, um grupo de empresas participa das licitações municipais, mas só a titular do setor tem o preço mais baixo.
As empresas que participam das licitações para inglês ver têm sua contrapartida nos territórios sob sua cidadania.
É o jogo das cartas marcadas pelo mercado.
No Rio Grande do Sul, o objeto do desejo desses corruptores e corruptos é a Corsan.
Já é de conhecimento público a onda de intenções de municipalizações que se levanta com manifestações de vários prefeitos gaúchos.
Resta saber se, durante a campanha eleitoral deste ano, a privatização da água vai fazer parte dos programas de governo e da propaganda política dos prefeitos candidatos à reeleição e dos vereadores candidatos a aprovar o projeto nas câmaras.
O projeto vai ser mostrado como é, privatização da água, ou vai fantasiado de municipalização?
“Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual” (...)
Embora pareça habitual, trivial e singela a defesa dos interesses das populações dos municípios pelos prefeitos, é bom examinar o que está por trás das aparências, seguindo o conselho entre aspas acima.
A empreiteira que quer controlar a distribuição da água na região oeste do Rio Grande do Sul é uma Ode a Bretch.
Segundo o dicionário, “ode” é uma composição poética do gênero lírico em que se exaltam os atributos de homens ilustres, o amor e outros sentimentos.
Esta ode é uma homenagem aos sentimentos e pressentimentos do poeta e dramaturgo alemão Bertolt Brecht.
Até porque nada melhor quem mergulha no poema concreto com um trocadilho infame como salva-vidas.
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domingo, 6 de abril de 2008
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Um comentário:
Não confunda Ode à Brecht com Odebrecht, que certamente tem interesses nas privatizções, principalmente do setor água.
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