segunda-feira, 17 de março de 2008

CUSCO DA PROVÍNCIA
E SE FOSSE DINHEIRO PARA A MÍDIA?

Admiro o talento de alguns jornalistas que realizam verdadeiros prodígios bíblicos só para garantir o parco salário e o sorriso amarelo do patrão. Admiro porque fico imaginando o relevante serviço que prestariam em benefício da humanidade se usassem o mesmo talento com finalidades mais nobres.

Faltavam seis minutos para as sete da manhã de segunda-feira (17/3) quando o jornalista André Machado, um dos apresentadores do programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha AM, e blogueiro do grupo RBS, postou a ata da sua parcialidade ou uma biópsia da sua isenção. O coitado acreditou ter dominado as águas do mar vermelho da ética e libertado seu público alvo daquilo que acredita ser a escravidão democrática do Faraó de Garanhuns.

O problema é que tecnicamente o cidadão André mergulhou de cabeça na pia e deixou o jornalista Machado com a calça, a cueca e a ética arriadas numa posição contrangedora no vaso sanitário da própria soberba. Ainda por cima esqueceu de se olhar no espelho e saiu de casa com os neurônios despenteados.

O cusco da província pergunta, abanando o rabo preso.

- E se fosse no governo FHC? (clique aqui)

Seu ato contínuo revela que ainda há vestígios de autocrítica naquele corpo.

- Tente julgar sem o coração.

Aqui o texto decreta o fim da luta de classes e impõe sua ideologia. Afinal, o coração fica do lado esquerdo do peito, justamente o lado que deve ser excluído na análise. Mera coincidência?

“Imagine o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em um ano de eleições municipais autorizando um pagamento de R$ 30 por mês para jovens de 16 e 17 anos que estiverem estudando. Ainda mais sabendo que pessoas beneficiadas pelo Bolsa Escola nesta faixa etária são eleitores”, denuncia o assessorista de imprensa.

Sem usar o aparelho cardíaco, como pede a vítima da mais valia da RBS, ainda é possível questionar seus critérios.

Pouco depois, às 10h05min, deixei o comentário abaixo no blogue do empregado da RBS.

E SE FOSSE DINHEIRO PARA A MÍDIA?

A Prefeitura de São Borja deu para a RBS em 2007 R$ 70 mil para propaganda. Antes o valor repassado era a metade. O novo contrato previu pouca divulgação no ano em questão, mas previu ampla cobertura neste ano eleitoral, ou seja, o excedente vira propaganda sob diversas formas, inclusive suposto jornalismo, justamente em ano de eleições municipais.

Quer dizer que a RBS pooode, um milhão e 700 mil jovens excluídos não pooodem?

Ainda bem que a blogosfera acabou com o monólogo e eu posso dialogar com o defensor da liberdade de censura aos outros lados de quaisquer fatos.

Se fosse no governo FHC o assunto seria tratado por ele, André Machado, e pela mídia como um grande programa de governo, que estaria acima de questiúnculas eleitorais. Viraria apenas mais uma intriga da oposição.

Imagine o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de olho na própria reeleição, entregando o patrimônio público por algo em torno de 35 dólares, valor que a Globo pagou pela TV Paulista com o aval da ditadura.

Para imaginar o que vou contar agora não precisa nem sair do prédio na esquina da Ipiranga com a Erico Veríssimo, sede da RBS em Porto Alegre.

Imagine o Maurício Sirotsky Sobrinho conversando pelo telefone com o Antônio Delfim Netto, então ministro todo-poderoso da Fazenda da ditadura militar. Papo vai, papo vem e lá pelas tantas chega um aspone e entrega um bilhetinho enviado por um araponga infiltrado na redação do Correio do Povo.

- O negócio está feito, pode autorizar a maxidesvalorização do cruzeiro.

Bingo. A Caldas Júnior tinha acabado de contratar milhões de dólares em empréstimos internacionais para montar a TV2 Guaíba. E o Delfim virou sócio da RBS. Bingo, de novo.

Essas são algumas coisas que o coração não lembra porque está mais preocupado com a inclusão social e com o desenvolvimento sustentável da saúde pública.

“Agora o mundo real” do André Machado.

Imagine o governo Lula anunciando hoje, 17 de março de 2008, um programa de renovação automática de concessões de rádio e tv, oferecendo como bônus o bloqueio permanente da inclusão de novos canais de emissoras comerciais e comunitárias no espectro nacional. A não ser para os grupos já instalados.

Imagine o governo Lula ainda acenando com empréstimos de bilhões de dólares, a fundo perdido, para que as emissoras privadas de sentido público pudessem melhorar sua capacidade de manipular e controlar nossa identidade nacional.

Imagine mais, o governo Lula editando uma medida provisória abolindo as eleições pelos excessivos gastos a cada dois anos e instituindo as pesquisas de opinião, controladas pela mídia, como o mais novo e definitivo sufrágio eleitoral no Brasil.

Ganharia o prêmio "fazendo a diferença".

André, Machado em vara de bambu verde, se não for empunhado com precisão e competência se volta contra o lenhador e o estrago está feito.

POST POST

Originalmente havia escrito guaipeca na cartola. Nesta atualização, proporcionada pelo comentário do Jurandir Paulo, ginete (cavaleiro) do blogue Abunda Canalha (clique aqui), "criticando" essa mania de gaúcho acreditar que todo mundo vai entender o que ele diz, achei melhor o som de "cusco da província". Ambas são expressões típicas do Rio Grande do Sul e significam cão pequeno, cãozinho, vira-lata, sem raça definida.

A redução para cusco ou guaipeca é baseada na obra "A saga dos cães perdidos", de Ciro Marcondes Filho. Ciro a extraiu do romance "Cães da Província", do escritor gaúcho Luiz Antônio Assis Brasil, inspirado na louca vida do dramaturgo em tempo real Qorpo Santo.

Fica a dúvida se nessa redução o ideal é usar "cusco da província" ou "lobo-guará global", já que seu egossistema é a falta de ética dos jornalistas que se escondem na técnica do assessorismo de imprensa da ideologia de quem lhes alcança o soldo, agindo como verdadeiros soldados cujas armas mais letais são as palavras engolidas.

Deve ser por isso que o PUM (Pensamento Único da Mídia) do PIG (Partido da Imprensa Golpista) tem cheiro de lagoa de decantação de dejetos da realidade.

Atualizado às 14h39min de terça-feira, 18 de março de 2008.
.

3 comentários:

Jurandir Paulo disse...

Achei ótimo o texto, mas aqui do Rio boiei nas questões regionais. Quem é André Machado?

Anônimo disse...

Tem razão Jurandir. Vou atualizar o texto com tua contribuição.

Jurandir Paulo disse...

Eduardo, ficou agora mais que perfeito, para ser entendido por este grande Brasil. Ficou clara mais uma hipocrisia canalha de nossa mídia. Igual do Oiapoque ao Chuí. Um forte abraço.